18 de junho de 2009

Tragédia da vida Moderna

Sam Mendes conseguiu em seu filme demonstrar que a ruptura familiar é apenas um aspecto para uma destruição ainda maior: a da própria sociedade.

“Foi num desses dias, quando está prestes a nevar e há uma eletricidade no ar. Você quase pode ouvir. Certo? E este plástico estava simplesmente dançando para mim como uma criança chamando para brincar por quinze minutos. Foi quando entendi que havia essa vida toda por trás das coisas e essa incrível força benevolente que dizia não haver razão para nunca ter medo. Em vídeo, eu sei, não é a mesma coisa, mas ajuda a lembrar. Eu preciso lembrar. Às vezes, há tanta beleza no mundo! Penso que não vou suportar e meu coração parece que vai sucumbir.”
Em determinado momento do filme Beleza Americana do diretor Sam Mendes, o personagem Ricky quase “recita” a passagem acima para sua namorada Jane. Essa é uma das mais tocantes cenas da película, que além de falar de amor, toca em assuntos muito delicados no modo de vida americano como sexo casual, pedofilia, drogas, homossexualismo, futilidade, amizade, dor, famílias despedaçadas, depressão, violência doméstica, e por fim, assassinato. Mas o que mais nos surpreende é o modo como todos nós nos identificamos com os temas propostos no filme, muito comuns até em nosso contexto brasileiro. Assim, além de Sam Mendes ter presenteado o mundo com uma das mais cínicas e verdadeiras representações da América contemporânea, ele também tece uma bela pintura da sociedade humana em geral, que perdeu o sentido de tudo, abandonada tragicamente na futilidade da sua existência. Assim nos é possível enumerar alguns elementos do filme que provocam o sentido do trágico, não do que era o conhecido no mundo antigo grego, mas da maneira que nós conhecemos. Afinal, existe algo mais catastrófico do que chegarmos ao final de uma vida e nos darmos conta de que nunca paramos para testemunhar a beleza de um saco plástico voando ao vento?


Assim fica a pergunta: Quem não se reconhece ao ver o filme de Sam Mendes? Quem não se sente um pouco incomodado com algumas situações mostradas no filme, profundamente reconhecíveis na vida particular? Quem não gostaria de ter a coragem de Lester, de mudar o próprio mundo privado sem prestar atenção aos outros? No entanto, acabamos nos reprimindo cada vez mais ao nos prender às convenções e às pretensões dos nossos amigos e familiares. Ou como bem assinalou o autor tcheco Milan Kundera, na sua obra a Insustentável Leveza do Ser, “procuramos sempre o peso das responsabilidades, quando o que na verdade almejamos é a leveza da liberdade”.


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